- Hipótese de trabalho e justificação
Conscientes do impasse com que, até ao momento, os estudos comparativos sobre as pequenas cidades se depararam, propomo-nos avaliar a exequibilidade da hipótese de trabalho de seguida explicitada.
Defendemos que a comparabilidade entre os núcleos urbanos não deve basear-se numa definição prévia do objeto de estudo (nunca coroada de êxito até ao momento) mas numa aferição dos indicadores da abordagem.
Mais especificamente, a aposta metodológica do atual projeto é a de avaliar se um modelo de análise de pequenos centros urbanos (integrando diferentes variáveis de centralidade), aplicado já a dois reinos medievais europeus, é adequável a outras cronologias e geografias.
Os resultados até ao momento obtidos pelo projeto Petites villes aux XIIIe-XVe siècles. Royaumes de Portugal et de France et terres d'Empire francophones são altamente animadores e incentivam à continuação desta linha de pesquisa (Programa PESSOA -2016-2017- desenvolvido pela FCSH/UNL e pela Universidade Blaise Pascal/Clermont Ferrand, financiado pela FCT e pelo CAMPUSFRANCE).
- Delimitação cronológica e espacial do objeto deestudo
No projeto exploratório agora apresentado, os limites temporais e espaciais da anterior proposta de investigação são alargados, tendo por base uma escolha criteriosa.
Assim, a cronologia prolonga-se desde a alta Idade Média – incluindo o período islâmico na Península Ibérica - até ao início da Primeira Guerra Mundial. É certo que a inclusão do “longo século XIX”, com a revolução dos transportes e a aceleração do fenómeno de urbanização iniciadas na primeira metade da centúria, introduz outras variáveis nos critérios de centralidade até aí vigentes. Contudo, a progressiva afirmação de renovadas funções para as cidades, ao nível político, económico ou até cultural, bem como uma maior disponibilidade de fontes para a caraterização do papel dos pequenosnúcleos neste renovado processo de coesão territorial, tornam necessária esta extensão cronológica. No caso dos espaços coloniais, a cronologia será mais limitada, terminando no primeiro quartel do século XIX, coincidindo com os processos de independência dos países da América Latina (caso do Brasil, por exemplo).
Nesta proposta, o espaço geopolítico é enquadrador mas não determinante. Ou seja, os limites entre os reinos, quer na Europa (Portugal, Espanha, França) quer nas suas projeções americanas, não são utilizados como barreiras da pesquisa, dado que eles não interrompem os fluxos de comunicação, de pessoas e de bens. É contudo fundamental equacionar a dimensão política dos vários territórios, uma vez que se adota o conceito (atualmente) prescritivo de coesão territorial. No nosso projeto, e nos vários períodos em análise, este conceito tanto poderá corresponder a uma deliberada construção política do território como a uma estruturação mais informe e pragmática “vinda de baixo”. Com efeito, é fundamental a análise da interação entre os modelos de organização urbana (e relação com o território) dos europeus e os das sociedades ameríndias. Se portugueses e espanhóis transplantam para os arquipélagos atlânticos e para as Américas o seu modelo de organização urbana, este transforma-se profundamente pela distância em relação à Europa, pela especificidade dos fatores ambientais e, sobretudo, pela agency das populações locais.
- Objetivos da Investigação
Objetivos científicos:
1 - Estabelecer categorias de critérios de centralidade que sejam transferíveis e utilizáveis nos diferentes pontos de observação selecionados na Europa e no continente americano.
2 – Elaborar sondagens sobre a aplicabilidade desses critérios (com eventuais ajustamentos) a outros domínios cronológicos e espaciais.
3 – Construir um projeto mais abrangente, em termos geográficos (e, eventualmente, temporais), para submeter a concursos internacionais;
4 – Construir projetos de observação mais focalizada desta problemática para submeter a concursos nacionais.
Objetivo societário:
Vários modelos económicos atuais adotam o conceito de coesão territorial, tendo os poderes políticos, nomeadamente nos países que integram a União Europeia, desenhado medidas no sentido de a concretizar. Defendemos que este projeto, pela agregação de uma equipa multidisciplinar, reúne condições que lhe permitem contribuir para sustentar políticas nacionais e europeias que, por norma, omitem a dimensão do passado, uma herança atuante nos nossos dias. Assumimos que esta proposta tem pertinência societária.